Por que o filho é da mãe? - Uma reflexão do livro "O mito do amor materno"

Em "O Mito do Amor Materno", Elisabeth Badinter desafia a crença profundamente enraizada de que o amor materno é um instinto natural e inato em todas as mulheres. A autora argumenta que essa noção é, na verdade, um mito construído socialmente ao longo dos séculos, com o objetivo de controlar e restringir o papel das mulheres na sociedade.

Badinter examina a história do comportamento materno na França ao longo de quatro séculos, mostrando como as expectativas e os padrões maternos variaram significativamente de acordo com o contexto social e cultural de cada época. Ela demonstra que o amor materno não é um sentimento universal e imutável, mas sim uma construção social influenciada por fatores como classe social, religião, economia e política.

A autora também questiona a ideia do "instinto materno", argumentando que não há evidências científicas que comprovem a existência de um instinto biológico que impulsione as mulheres a amar e cuidar dos filhos. Em vez disso, ela sugere que o amor materno é um sentimento complexo e multifacetado, que se desenvolve ao longo do tempo através da interação entre mãe e filho.

Badinter destaca que a pressão social para que as mulheres sejam mães perfeitas e abnegadas pode ter consequências negativas tanto para as mães quanto para os filhos. Essa pressão pode levar as mães a se sentirem culpadas e inadequadas, além de gerar expectativas irreais sobre a maternidade. Para os filhos, a idealização do amor materno pode dificultar o desenvolvimento da autonomia e da individualidade.

Ao desconstruir o mito do amor materno, Elisabeth Badinter abre espaço para uma discussão mais honesta e realista sobre a maternidade. Ela defende que as mulheres devem ter a liberdade de escolher se querem ou não ser mães, e que a maternidade deve ser vista como uma experiência individual e subjetiva, livre de julgamentos e expectativas pré-concebidas.

Em resumo, "O Mito do Amor Materno" é uma obra provocativa e instigante que questiona as normas sociais e culturais em torno da maternidade. Ao desconstruir a ideia do amor materno como um instinto natural, a autora oferece uma nova perspectiva sobre a maternidade, mais livre, autêntica e empoderadora para as mulheres. 

Este livro foi fundamental para a compreensão de casos que envolviam negligência e violência de mães contra seus filhos. Desnaturalizar a maternidade é primordial para que possamos entender que todas as relações são construídas a partir da convivência, investimento e cuidado. A partir desta premissa, compreendemos também que cada criança tem suas necessidades essenciais e que a responsividade de suas demandas por seu cuidador é vai marcar seu desenvolvimento saudável, afinal, o filho é da mãe, do pai, da sociedade e de todos os seus responsáveis, afinal, como diz um provérbio africano muito conhecido: "É preciso uma aldeia inteira para cuidar de uma criança". 



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