A criança que emerge na mãe que sou
Definitivamente, o que mais invejo em outras mães, são aquelas que
conseguem lidar com situações nas quais seus filhos são confrontados,
ameaçados, insultados e, conseguem lidar de forma absurdamente tranquila. Não
falo como psicóloga. Insisto. Quando se trata da minha maternidade, eu me
esqueço completamente das teorias aprendidas na faculdade ou das metodologias
que aplico no contexto clínico. Na clínica, eu seguro o bisturi, estou ali para
operar, é simples, incisivo, abro delicadamente, avalio a ferida, suturo e
retomamos em outro ato.
Simples assim.
No dia a dia é claro que a psicologia me dá embasamento para compreender
melhor as respostas do meu filho diante de algumas situações, porém, situações
onde percebo que ele possa estar em risco ou que alguém tenha intenção de
machucá-lo/magoá-lo ou ofendê-lo (Socorro!)... Isso comumente acontece entre
crianças, normal né? Naturalmente vai acontecer, no ambiente escolar, em locais
de socialização como pracinhas, parques, piscinas ou praias. Espaços onde crianças
de diferentes culturas, meios familiares, histórias de vida vão inevitavelmente
se encontrar e nem sempre serão gentis umas com as outras e não tratarão o meu
filho como o meu filho as tratará.
Dito isso. Preciso desabafar, o quanto é difícil entender que crianças
podem ser cruéis com outras crianças e entendo que elas são reflexos de seus
pais. Triste pensar assim. Triste ver uma criança chamar outra criança de
gorda, preta, feia ou de chinês. Nesse momento vejo na criança a rotina de toda
uma família, caímos naquele discurso do mimimi que tanto machuca a criança
preta, gorda, feia e chinesa xingada. Não porque seja errado uma criança ser
chinesa ou japonesa como é o caso do meu filho, e que foi a cena que eu
presenciei, quando meu filho seguia a fila para entrar em um brinquedo em um
espaço público. Uma criança visivelmente maior lhe disse: - sai daí japonês!, meu
filho respondeu: Não sou japonês! Em tom de deboche, junto aos demais garotos
(os valentões nunca praticam bullyng sozinhos,estão sempre apoiados por
cúmplices), ele gritou: - sai daqui, seu chinês!
Oi? O sujeito comprou a praça? Mas resolvi assistir por mais uns
segundos antes de dar uma lição de moral.
Confesso que a criança que classificou meu filho de 'chinês' tem um
nariz um tanto quanto peculiar e um corte de cabelo de um gosto duvidoso... Mas
eu sou apenas a mãe que se descontrola ao ver outras crianças (se acontecer com
um adulto, será pior!) insultando o meu filho, mas não sou a mãe que ensina o
filho a repetir o comportamento estúpido do colega devolvendo na mesma moeda, na
base da ofensa. Apenas pedi em alto e bom som que não ficasse perto de uma
criança tão mal educada, não sei onde estava a mãe, não sei onde estava o pai.
Só sei que a criança esbugalhou seus olhos claros e arrepiou seus cabelos
lourinhos entendendo que em espaços públicos ele não poderia reinar como
provavelmente deve acontecer em sua nobre casa.
O que me acalenta é saber que meu filho sabe o quanto é amado e que o
fato de ser 'japonês' não o diminui ou o torna pior que as outras crianças,
pois sua diferença étnica sempre foi um tema trabalhado em casa. Mas será que
todas as famílias estão preparadas para acolher uma criança que ouviu que é
preta, pobre, ou gorda? Será que toda família estará preparada para acolher e
explicar que não está errado ser chinês, japonês ou negro?
O que realmente machuca é a forma como as palavras são ditas, pois
crianças ditadoras, comumente possuem um tom impositivo, violento. A criança
que recebe as palavras podem carregá-las para toda a vida. É assim que
iniciamos a vida de traumas, certo? Errado!!!!
É aí que entram as mães e pais que vão abraçar essas crianças agredidas
e lhes dizer que elas são absolutamente amadas pelo que são, da forma que são.
Que nós as amamos e que o erro é sempre de quem ataca e não de quem é atacado.
E se possível, explique para a criança que jamais compartilhe o mesmo espaço
com pessoas sem educação, retrógradas, mesquinhas e que não acrescentem
cultura, conhecimento e diversidade em suas vidas.
Como toda boa freudiana, acredito sempre na total culpa dos pais.
Criança não nasce discriminando, assediando, odiando. Aprende no seio da
família. Ouvindo os pais dizendo "o que pode ou não se misturar" (se
é que me entende)... Crianças são espelhos, quando vejo uma reinando, só me
confirma o que conheço sobre os pais.
A criança que habita em mim, emerge e protege a criança que eu pari,
crio e acalento todos os dias, até quando Deus me permitir. Aos pais que não
perdem seu precioso tempo ensinando sobre discriminação racial, diversidade e
respeito ao próximo, fiquem atentos, meu filho segue preparado para ensiná-los
e caso não seja suficiente, omo eu disse, admiro as mães que se
controlam, porque eu, bem,eu vou ensinar o que seu filho deveria ter aprendido
em casa: educação ao próximo e respeito a todos.
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