Minha gravidez atípica

 Olá, criativ@s!

 Hoje, eu quero compartilhar com vocês a minha experiência de gravidez... Uau... Como é difícil falar sobre um momento tão especial e complexo, por vezes doloroso, ao ponto de eu esquecer muitos detalhes, talvez por algum mecanismo de defesa. 

 Como em quase tudo na minha vida, eu fugi à regra com a gravidez. Eu não me casei, não planejei a gravidez, aliás, eu achava que nem poderia ficar grávida! Vou explicar... Aos quinze anos, na minha primeira consulta ginecológica o danado do "doutô" me diagnosticou com ovários micropolicísticos- vou explicar rapidamente para quem não conhece, pois acho muito chato quando a pessoa deixa um termo específico e desconhecido no ar, e o leitor que lute! A síndrome dos ovários micropolicísticos acontece desde o momento em que você ainda está na barriga da sua mãe, segundo esse mesmo ginecologista, são vários micro cistos que se formam na região periférica dos ovários ou do ovário, o grau de acometimento varia, eu poderia ter ganho de peso, pelos indesejados no corpo, excesso de espinhas e por fim ele me informou que eu não poderia ter filhos... É isso aí... Na minha primeira consulta ginecológica, fui condenada pelo "danado do doutô" à, no mínimo, uma necessidade de tratamento quando eu me casasse mais tarde e desejasse ser mãe. 

 Só Deus sabe o quanto isso afetou minha vida. Eu sempre brinquei de bonecas, eu acordava no inverno, colocava tudo que pudesse representar "uma vida", bonecas, Barbie (só tinha uma...), ursos de pelúcia, e todo ser que pudesse ter alguma representação filial enfileirados embaixo de uma coberta quentinha para que eles não passasem frio durante a noite. Eu já era uma boa mãe de bonecas, e acho que já sonhava em ser mãe de um filho de verdade. Eu gostava de crianças e só agora, ao escrever este texto, estou me dando conta de quão grande era meu desejo de maternar. 

 A partir dessa consulta, foi receitado um anticoncepcional, o médico orientou que seria uma forma de controlar os sintomas da síndrome e durante anos fiz uso da pílula apenas com o intuito de amenizar os sintomas já que sempre fui dos "namoro firme" e na minha cabeça eu não poderia ser mãe. Eu compreendo totalmente e mulher que decide não ter filhos. De verdade eu entendo! Mas não era o meu caso, eu tinha um desejo reprimido, era difícil aceitar que eu não "poderia" ter filhos e talvez por isso eu tenha internalizado a ideia de que eu NÃO DESEJAVA ser mãe. Quando namorei um rapaz que já tinha um filho, isso mexeu ainda mais na ferida, eu me sentia inferior a mãe da criança, sentia ciúmes, sentia que meu namorado não me amava como eu merecia, era o meu lado pueril gritando por atenção e socorro, eu não sabia que dava para amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo e que todos somos amados de uma forma única. Consciência emocional de uma criança, uma criança sozinha.

 Voltando para a gravidez não planejada... Eu não tinha terminado a faculdade (mesmo quase trintando na época). Eu nem sequer tinha um NAMORADO! Aconteceu. Numa recaída com um ex, desses que você só passa a dar valor depois de ver que o mercado masculino está totalmente defasado e decadente. Uma pessoa de pouca fala, pouco riso e semblante pesado. E eu? Eu amo gargalhar e sou feliz com coisas simples, sonhadora e criativa. Ele, dez anos mais velho e um pouco ranzinza. Eu, quase me despedindo da casa dos 20, na época, com várias crises de depressão severa. Éramos opostos. Somos opostos. Atualmente o pai do meu filho é bloqueado no meu WhatsApp... Mas isso será conteúdo para outro capítulo...rs

 O fato é que por ironia do destino, éramos fogo e paixão. Na época da recaída, nos encontramos durante uns dois finais de semana, é difícil explicar, mas quando vi já tinha ligado para ele, já estávamos nos encontrando, quando abria os olhos a magia já tinha acontecido! Na terceira semana, eu liguei para ele num domingo, tinha voltado de um trabalho em grupo com colegas da faculdade, por telefone ele me disse que não queria mais, que não dava mais. Havia mágoa, muita mágoa. Eu tentei ser compreensiva e me afastei. Não o procurei, eu não merecia passar por aquilo e prometi que não me machucaria mais. Mal poderia imaginar que a brincadeira estava apenas começando! 

 Uma semana depois, eu estava na sala da casa de uma amiga- dessas que te ajuda a esconder um corpo se for preciso, ela estava gestando o segundo filho, sem a ajuda do pai, carregando a gravidez na raça. Eu olhei para sua barrigona de oito meses e fumando um cigarro, disse a ela: "Cara, como você é corajosa!". Hoje em dia a gente ri da situação, pois dentro de alguns meses eu estaria passando por tudo aquilo também.

 Mais uma semana se passou, eu estava na faculdade e percebi que meus seios estavam doloridos, pareciam inchados, eu não estava tomando o anticoncepcional, pois como há algum tempo estava sem namorado e a médica havia orientado a dar um tempo pelo menos uma vez ao ano, uma pausa nos hormônios poderia fazer bem, nessa época, a presença dos cistos estava controlada, mas meu ciclo era completamente maluco. Eu estava esperando minha menstruação. Um dia. Dois dias. Três dias. Impossível. O médico atestou que eu não poderia engravidar. Sem chance de ser uma gravidez, zero chance. Eu viajaria para Curitiba na sexta, ainda era segunda ou terça. Apelei para a amiga grávida, a fiel escudeira foi comprar um teste de gravidez. Fiquei imaginando a reação da atendente da farmácia, uma barriga de oito meses comprando um teste de gravidez. Um pouco tarde para o teste. Eu fui para a casa dela, ela me explicou como fazer, e eu não era totalmente leiga. Já havia feito alguns com uma certa esperança. entrei no banheiro sozinha. Tranquei a porta. Fiz xixi no potinho. Coloquei a fitinha no potinho. A instrução falava que uma uma faixa azul iria aparecer após três minutos. Mas ao colocar a fitinha no potinho de xixi, instantaneamente a fitinha ficou azul. Duas faixas azuis. Impossível. Médico incompetente! Eu não precisava mais esperar minha menstruação. Eu, agora, esperava um filho.

 Eu gritava do lado de dentro do banheiro, não conseguia abrir o trinco da porta. Minha amiga gritava de fora, eu chorava lá dentro. Saí com o potinho de xixi na mão, com vergonha. Pedi para ela olhar a fitinha, ela ficou calada, eu perguntei o que ela achava e ela achava o mesmo que eu. Positivo. Doutô, falhou rude. Eu poderia ser mãe sim. Sem tratamento. Na primeira "mancada" eu fiquei grávida. Doutô, como você não orientou que mesmo com os ovários meia boca uma gravidez poderia acontecer? Um misto de alegria, desespero, medo, choro, choro, choro. 

 Toma uma água. Senta. Respira. Chora. Minha amiga não sabia como me consolar. Eu não sabia o que fazer. Meus pais vão me matar. Aí é que entra o conceito o sentimento de ambiguidade, conceito mestre de Freud, como diz a professora e psicanalista Maria Homem. Quero. Mas vai me trazer tantos problemas. Eu sou foda! Sou fértil! Vou ser mãe! Mas como vou criar um bebê sem emprego e sem marido? Droga de sentimento ambíguo. Preciso contar para o pai. 

 Liguei para o pai do meu filho, o pai do meu filho me tratou com desdém, achou que eu queria ver a magia. Pobre coitado, o buraco era bem mais embaixo. Fui atá a casa dele. Sentei no tapete da sala, eu chorava e não conseguia falar. Ele devia estar pensando no quão apaixonada eu era e no quão irresistível ele era. Quando consegui falar alguma coisa, as palavras saíram engasgadas, nem eu conseguia entender, como poderia esperar que ele entendesse? No final consegui explicar que havia feito um teste de gravidez e que deu positivo. Ele ficou calado. Sério. De repente, com muito cinismo no olhar me falou:"Deixa eu ver se eu entendi, você está dizendo que está grávida e que o filho é meu?"

 Choro, muito choro. Cretino maldito! Você estava lá, sabe exatamente o que aconteceu, eu pensei em silêncio. Em algum momento ele se sensibilizou com meu choro tristeza, baixou a guarda e pediu calma. Fazia um calor infernal e eu suava em bicas. Ele pediu para que fôssemos ao quarto por causa do ar condicionado, estava calor e eu aceitei. Eu me sentei na cama, e só chorava, ele estava deitado e pediu para eu deitar para que ele pudesse me dar um abraço. Eu já tinha caído naquele papinho diversas vezes, estava ali para resolver a situação do meu filho. Ele garantiu que era só um abraço. Ele me abraçou, o medo passou, a dor passou. Me senti segura ali. Nossos pés se tocaram. Quando eu abri os olhos a magia já havia acontecido. Mais uma vez.

 Combinamos que no dia seguinte, iríamos no laboratório fazer o teste de farmácia, fomos até Jandaia, a gente não sabia se comportar, não éramos um casal, mas também não éramos indiferentes um ao outro. No momento da coleta, ele segurou a minha mão. Eu morria de medo de agulhas e chorava feito uma criança. A moça informou que demoraria cerca de uma hora, demos uma volta pela cidade. O tempo parecia ter parado. Ansiedade. Acho que ele pensava que era papo de mulher desesperada, já que ele era irresistível. Tipo uma tentativa de "fisgar o peixão". Muita autoestima para um homem só. Uma hora depois saiu o resultado, peguei o envelope e durante o caminho de volta eu o abri. Positivo. Silêncio. Um tempo depois veio aquele papo de que ele não estava preparado para ser pai. Oi? Meu bem, você já é pai de uma criança de doze anos! E eu que não podia engravidar até o mês passado? Estou pronta? Ah...mas a mulher tem o tal instinto materno né. Ok. Deixei ele digerir a informação, enquanto eu chorava sem parar, sem saber o que fazer. Eu também tinha dúvidas se aquele era o momento para ter um filho. Estava assustada demais para pensar com clareza. Nós dois estávamos. Seguimos o restante do trajeto de volta em silêncio.

 Vou parar por aqui, o texto ficou extenso e eu nem consegui falar da gravidez propriamente. Mas tem um menino de sete anos acordado à 01:16 da madrugada esperando a mãe trabalhar, e eu preciso fazê-lo dormir. Nesse dia, em que recebi o resultado positivo nas mãos, eu não sabia o que se passava na cabeça do pai, mesmo com todo o medo, em silêncio, eu já estava determinada a encarar qualquer perrengue por aquele bichinho que já pulsava na minha barriga. Em breve conto mais sobre como me adaptei com criatividade a uma situação completamente atípica.

 Boa noite.



 

 


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